[F] suíte do Clube do Inferno | 16/jan/20 às 14:35 | [+18]

Daniel era um homem de moral duvidosa, com um passado obscuro e com uma intensa vontade de vencer. Ele havia passado por muita coisa, sobrevivido a horrores inimagináveis e conseguido triunfar como o Rei Branco do Círculo Interno. Quem o via agora, trajado em suas vestes caras de couro, látex e seda pura e branca, achava que ele havia conseguido aquilo do nada, simplesmente estalando os dedos e ganhando de mão beijada a sua fortuna, influência e poder. A única pessoa neste mundo capaz de compreendê-lo era Wagner, no entanto. Ele havia se aliado ao loiro ao ser salvo da sua Igreja, que o perseguia devido à sua mutação. O íncubo era a única coisa na vida de Daniel capaz de deixa-lo bem e verdadeiramente feliz.

O Clube do Inferno, no início, parecia ser um bom lugar para o telepata. Eles tinham uma ambição muito grande, claro, mas eles se ajudavam, emprestavam dinheiro, davam terras, influência, poder e muito mais. Porém, havia uma face horrível e monstruosa no Círculo Interno que havia abalado o Rei Branco profundamente, deixando-o desgostoso da vida e profundamente decepcionado com o mundo e com aquela organização. Eles não se importavam com os mutantes, muito menos tentavam pavimentar um futuro melhor e mais grandioso, eles apenas se importavam com suas contas bancárias e com o acúmulo de dinheiro, riquezas e influência.

Chamando-o para a sua suíte, o loiro pediu para que Wagner o acompanhasse para que eles pudessem conversar em paz. O quarto possuía um papel de parede cinzento, com uma enorme cama com dosséis de madeira, móveis cor de vinho e janelas com as cortinas fechadas e de mesmo tom cinzento que predominava o quarto. Como sempre, o Círculo Interno tinha um certo apreço às cores predominantes do tabuleiro de xadrez. Daniel preferia vermelho, mas...

— Eu fiz uma coisa e preciso saber com você se pode me perdoar — disparou Daniel respirando profundamente, voltando-se para o ex-padre com o peito pesado. Ele poderia perdoar o telepata? — Eu acho que não podemos continuar no Círculo Interno. Digo, sei que nós dois viemos para cá e evoluímos, mas estão contra nós. Eu... me encontrei com um membro dos X-Men ontem e entreguei a ele um protótipo de uma máquina rastreadora de mutantes. — Nervoso, Frost não deixava de pensar em como Wagner gostava de ser Rei Negro, como ele apreciava o conforto e o poder que aquele grupo proporcionava. Mas, assim como ele havia aberto os olhos, ele esperava que o seu namorado pudesse acordar para a realidade.

Com o Cérebro, uma máquina que tinha como principal intuito rastrear mutantes, o Círculo Interno usaria aquilo para propósitos horrendos, sem se importar com os seus parceiros de gene ou com as consequências de seus atos.

— Eu só espero que você me perdoe. Eu queria ter contado antes, mas eu não tive coragem. Nesse exato momento a máquina deve estar sendo transportada do Reino Unido para o Instituto Xavier — revelou Daniel, expondo sua necessidade de amor e aprovação pelo outro. Wagner era o único capaz de despertar emoções no coração de gelo do telepata. — Eu o amo, Wagner, e eu não quero que fiquemos um contra o outro. Não estou dizendo para sairmos do Círculo Interno, estou dizendo para ficarmos aqui, aproveitarmos as nossas riquezas e usarmos a nossa influência aqui para ajudarmos outros mutantes. Mas claro, mantendo nosso ouro e poder.

Pondo as mãos nos ombros alheios, contornou o pescoço do outro e beijou seu queixo barbudo, beijando seus lábios.

Daniel tinha poucas fraquezas. Crescendo com um pai e uma mãe ruins e com sua irmã – e única fonte de amor sua – morta, Frost dificilmente demonstrava muito afeto ou carinho por alguém. Wagner, no entanto, havia conseguido despertar algo profundo no loiro, conquistando-o e fazendo o coração de gelo do mutante arrefecer diante de sua beleza e personalidade. Mentir não era do feitio do telepata, muito menos enganar – ele preferia ser sutil, discreto e falar pouco, preferindo usar enigmas e meias verdades ao invés de mentir, afinal mentir é feio, mas manipular, não.

Wagner se preocupava com Daniel, isso parecia claro em seu olhar, sua forma de agir denotava seu carinho pelo telepata e isso ele apreciava. Ele não queria admitir isso para ninguém, mas Pillsbury era o único com quem ele se importava de verdade. Ele não parecia julgar as ações de Frost, apenas achava ruim por não ter sido avisado com antecedência sobre elas. Aquilo aliviava profundamente o loiro. Ao comentar sobre o risco de serem mortos, Daniel respirou profunda e pesadamente. Era verdade; se o Círculo Interno descobrisse a transgressão do Rei Branco, sua cabeça certamente seria servida numa bandeja de prata.

— Eu não quero mentir para você, mas me preocupei com a sua segurança. Por mim você nunca saberia disso, jamais. Eu não quero que se machuque, Wagner, e você sabe disso. — Pousando a mão sobre o peitoral enorme do moreno, Daniel o beijou apaixonadamente, sentindo a aspereza de sua barba e a maciez de seus lábios. — Eu não gosto daqui, não coopero com os ideais deles, mas precisamos deles. Se quiser, saímos daqui agora mesmo e nunca mais retornamos, vamos para bem longe, tenho uma empresa só minha e tenho contatos até na CIA e nos X-Men, nunca irão nos encontrar. Mas isso só depende de você.

E era verdade; se sair do Círculo Interno significava perder Wagner, então Daniel preferia ficar no grupo para todo o sempre, mesmo que isso significasse flertar com o perigo ao seguir sua intuição e ir contra a sociedade secreta.