[missão] terraço do Shopping Williamsburg | 21/jan às 13:00 | [+16]

Perfection is the LAW

A rotina de manhã era sempre a mesma. Despertar de um sono que cada vez mais me parecia artificial - assim como boa parte de meu corpo -, afiar as lâminas que substituíam minhas pernas e me atualizar dos registros de mutantes desgarrados que facilmente se tornariam alvos da captura da X-Factor.

Por mais que grupos inúteis como os X-Men e a X-Force tentassem de todas as formas impedir o avanço das pesquisas do governo, nós já estávamos muitos passos à frente. Os laboratórios estavam cheios todos os dias de cobaias e cientistas realizando testes, coletando material genético e melhorando os protótipos para o Projeto Sentinela.

Quanto menos os ditos “heróis” esperassem, os mutantes enfim serviriam ao propósito maior: servir aos seus governantes, com toda a potência de suas habilidades.

Um alerta na sala de comando interrompeu os repetitivos movimentos de afiar a base de minhas lâminas, me fazendo correr até o painel central. Um ataque a um prédio comercial estava aterrorizando cidadãos. Aquilo parecia apenas um trabalho para os mutantes grudentos do Instituto, se o ataque em questão não fosse provocado por um cientista das indústrias Frost.

Poderia matar dois coelhos com um único golpe: Abduzir o cientista para que ele servisse à nossa causa e, eventualmente, drenar seus genes para a melhoria das Sentinelas.

Respirei fundo antes de me equipar corretamente e subir até o heliporto da base de operações. X-27 e os demais soldados pareciam estar ocupados em seus treinos matinais que eram comandados pela sombria figura de Lady X, sempre oculta de olhos curiosos.

— Esta não será uma operação comum, meus caros — me juntei ao pequeno esquadrão que sempre me acompanhava nas missões .Seis super-soldados extremamente bem treinados e obedientes. — Abater está fora de questão. O monstro que está causando tanta balbúrdia no centro comercial é George Hattaway, demitido recentemente das indústrias Frost. Deixem-me próximo a ele para que eu o convença a se juntar a nós. A inteligência de alguém como George será muito bem aproveitada.

Por ser uma viagem relativamente curta, o piloto do helicóptero pousou sem muitos problemas próximo do prédio comercial em chamas. Um gorila cinzento absurdamente grande e zangado destruía o topo do prédio enquanto tentava escalar até o terraço. Essa era a mutação de Hattaway? Patético e previsível.

Convencê-lo não seria um problema tão grande.

— Aguardem o meu sinal para lançar uma segunda corda assim que o trabalho terminar. Quero dois de vocês responsáveis pelos reparos do prédio. A população deve saber que o governo se preocupa com a segurança deles — distribuí as tarefas pouco antes de saltar até o terraço do alvo dos ataques.

Aterrissei graciosamente, pousando as pontas das lâminas com cautela no piso de pedra do terraço. Girei a mão direita em sentido anti-horário, para o esquadrão se afastar enquanto eu aguardava a chegada do “monstro”.

O gigantesco gorila rugiu ao chegar no topo do prédio e me ver bem na sua frente, com duas maças metálicas no lugar das mãos. Analisei minhas possibilidades com cuidado. Ele era grande demais para dar uma rasteira e esperar que fosse nocauteado. Desviei do primeiro golpe de uma de suas mãos peludas e me escorei na sacada do lugar, endurecendo meu corpo até que estivesse coberto com uma fina armadura metálica.

Se eu o cansasse por tempo o suficiente para que pudesse subir e atingir seus pontos de pressão na espinha, que apesar de monstruosa ainda era fácil de ser identificada, poderia fazê-lo voltar à forma original para dialogar com um homem no lugar de um bicho.

Flexionei as pernas mecânicas e girei para a esquerda, apoiando-me em uma mastro que tremia com o impacto das passadas do dr. Hattaway. O gorila me seguiu, raivoso e confuso. Era minha chance.

— George, sabe que não precisa fazer isso — gritei para que minha voz se sobrepusesse ao vento cortante que nos atravessava. — Entendo sua frustração. Mentes brilhantes nunca são valorizadas em seu devido tempo.

O sujeito rugiu e bateu com as duas mãos no chão, socando o peito para me desafiar. ótimo, parte de sua raiva estava se esgotando. Fiz minhas mãos voltarem ao normal e usei os ganchos do uniforme para jogá-los em suas costas.

— Deve conhecer a X-Factor — procurei domar a fera, que se sacudia para se livrar de mim. Posicionei as pernas de forma a envolverem o monstruoso pescoço. — Não precisa lutar, nós podemos te ajudar. O governo sabe reconhecer mentes brilhantes quando precisamos de uma. Seus estudos sobre radiação de metais classificados como desconhecidos serão muito úteis para nós.

O gorila parou, confuso. Provavelmente recobrando a consciência e se perguntando como eu sabia sobre seus estudos já que, em termos, todo tipo de informação dos laboratórios Frost eram confidenciais. Se ele soubesse o quanto estávamos avançados e cientes de absolutamente tudo ao nosso redor…

Aproveitei a janela de ação para transformar uma das mãos em um martelo gigante, golpeando um ponto de pressão em sua nuca, fazendo-o vacilar. Descruzei as pernas e saltei para trás, procurando o centro nervoso, na base da coluna. Pousei no chão e girei rapidamente ao identificar o local exato para nocauteá-lo e deixar suas pernas moles.

O urro de dor do cientista ecoou por toda a cidade. Sorri ao ver a gigantesca figura cair diante de mim. Girei o pescoço para um lado e fiz a armadura metálica se retrair, caminhando lentamente na direção de um já não tão ameaçador Dr. Hattaway, que estava deitando no chão, lutando para não ficar inconsciente.

— V-Você é muito rápida — ele suspirou com dificuldade dois hematomas se formavam onde o golpeei para nocauteá-lo. — Estou disposto a ouvi-la. S-Só… Me leve daqui.

Sorri, satisfeita e dei o comando pelo comunicador instalado no ouvido esquerdo. O helicóptero desceu rapidamente, pairando no ar por não ter onde pousar. Empurrei o cientista para que subisse primeiro pela corda jogado por um dos agentes. Recolhi suas roupas espalhadas no chão e acionei o cabo de meu uniforme para subir graciosamente até a cabine do veículo aéreo.

Joguei um colete da X-Factor e uma calça extra na direção do envergonhado George Hattaway, observando-o com frieza até chegarmos na base de operações do governo. Dispensei os soldados e guiei o cientista até o laboratório subterrâneo, apresentando-lhe todo o aparato que estava à sua disposição.

— Quero relatórios precisos e completos todos os dias às 6h da manhã — ordenei, escorando-me na porta entreaberta. — Terás acesso a café-da-manhã, almoço e jantar restritos somente à área de convivência de seus novos colegas. Um segurança o acompanhará durante todo o percurso. Nas primeiras 72h todos os seus movimentos serão monitorados — tirei um aplicador de nanochip da manga do uniforme e o espetei na nuca de George. — Não se preocupe, assim que o período de avaliação acabar, o robô instalado em seu corpo cairá na corrente sanguínea e será eliminado junto de seus demais dejetos. Comporte-se, doutor. Falhas serão punidas com a morte.

Deixei um pequeno envelope na mesa mais próxima e me retirei lentamente do local, a tempo de ouvir o homem abrir a pasta e conter um grito de pavor. Era a ficha completa de sua filha, Annie. Tínhamos ela sob total vigilância, caso ele viesse a cometer algum equívoco. Afinal, eu não havia especificado de quem seria a morte.