[F] escritório da diretoria 9/jan às 10:00am [L]

HEARTH is the strongest muscle

Nervoso para a primeira sessão de terapia de toda a minha vida? Muito. Talvez até demais. Ai, inferno, porque fui aceitar a sugestão dos meus colegas para agendar um compromisso justo com o chefe do Instituto? E se ele me achasse tão horrível que, em poucos segundos de conversa, eu já perdesse o emprego.

Ele era telepata, podia fazer qualquer coisa comigo. Absolutamente qualquer coisa. Eu não tinha exatamente uma forma de bloquear esse poder dele. Nem queria, já que todo o propósito de consultar um terapeuta era trabalhar os temores de minha mente. Agarrei as mangas do casaco com as pontas dos dedos enquanto saía do elevador que me levou do subsolo até o térreo.

Por sorte - ou simplesmente para acalmar minha mente paranóica - poucas pessoas circulavam no local. A maioria dos estudantes da academia aproveitava a manhã para suas atividades no jardim. Somente mais tarde o salão principal da mansão se encheria com as vozes animadas dos mutantes, que eu já ouvia de longe.

Eles tiveram sorte. Acolhidos assim, sem serem interrogados, jogados em um furgão e despachados para inúmeras guerras e conflitos sem saber se algum dia sairiam vivos daquela loucura. Somente depois de tanto tempo comecei a perceber que a preferência pela minha pessoa não era pelo excelente físico, disciplina ou habilidade com o fuzil. Eu era um mutante. Indiretamente o exército estava usando uma arma potencialmente perigosa a favor deles. E, durante muito tempo, assim foi.

— Sr. Grey? — bati delicadamente na porta. — Posso voltar outra hora, se estiver ocupado.

HEARTH is the strongest muscle

— Tudo bem, sr... Quer dizer, Ethan — entrei no escritório e me sentei na primeira poltrona que apareceu no campo de visão, de frente para a mesa do diretor da Academia. — Ainda estou me acostumando com isso de "família". Já que a maioria das pessoas que fizeram parte do meu passado usavam fardas, capacetes ou uniformes high-tech.

Cocei a nuca, me amaldiçoando por já começar a sessão daquela forma. Quem ele pensaria que eu era, um infiltrado do governo? Muito bom, Raphael, ótimo começo.

Respirei fundo, buscando me concentrar. Não sabia muito bem por onde começar, nem se o diretor/terapeuta/chefe que podia cortar meu salário sem se mover da cadeira usaria a tal telepatia que todos comentavam para vasculhar minha cabeça e - ta-dah - desse de cara com meus traumas.

— Sua cabeça não dói, às vezes? — perguntei a primeira coisa que me ocorreu. — Digo, com toda essa coisa de mover objetos, ler mentes, controlar campos de força e tal? Deve ser complicado.