Você está por conta própria, perdido na selva de pedra.

Estar em casa quando se viveu anos preso era quase como uma brincadeira irônica dos deuses. Elijah não costumava sair para caminhar, mas havia desenvolvido tal vício após refletir consigo mesmo e os seus amigos imaginários sobre isso. Ele havia sido internado ainda durante sua juventude em um hospital psiquiátrico, tudo por ter descontrolado seus poderes ao descobri-los pela primeira vez. Havia um misto de culpa e raiva rodeando seu rapaz, afinal, quando seu irmão descobrira acerca de sua mutação, ele fora ovacionado e enviado ao instituto dos X-Men. Por quê? Seu irmão mais novo tinha algum tipo de especialidade que ele desconhecia? Apesar das injustiças, o universo foi enfim digno e, ao ceifar a vida de seus progenitores, sua “alta” do lugar veio – afinal com eles mortos não havia pensão e, portanto, não tinha como ele ser mantido preso ali – e ele viu a luz do sol mais uma vez.

Agora, Elijah se tornara um homem de negócios, gastado bem sua herança em uma base fixa para os seus amigos mutantes e tornando-os pessoas melhores, mais poderosos e com um controle maior de seus poderes. Sua Irmandade era isso: união. Todos ali podiam serem eles mesmos, só havendo uma única lei que era o sigilo. Se os humanos descobrissem que uma das casas chiques do Brooklyn fosse um lar secreto para mutantes, tudo explodiria pelos ares em instantes. E só os deuses sabem o quanto Elijah precisava daquele lar, do apoio de seus parceiros mutantes e da vitória daquela guerra contra a ameaça que os humanos representavam.

Em meio a sua caminhada, eis que o moreno é surpreendido por um empurrão. Não um simples empurrão, mas um que veio do nada, mesmo sem ninguém ao redor do mutante. Sendo jogado em um beco, sua queda só não foi grave por causa do poder de seu assaltante, que acabou jogando-o contra uma parede. Ele tinha um sotaque russo, parecia um pouco pálido e doente, além de parecer bastante faminto. Sua situação era precária e ele parecia mal, entretanto, ele tinha uma faca. Erguendo as mãos, Elijah as envolveu em sua energia caótica vinho com preto e, apontando para trás do garoto, mostrou todas as diversas facas criadas pelo seu poder.

— Posso ajuda-lo, rapaz. Ao invés de eu te dar todo o meu dinheiro que, aliás, não tenho nenhum, vide que apenas estou caminhando, que tal eu leva-lo para a minha casa? Eu dou apoio a todos os mutantes que aparecem no meu caminho, assim como você. Eles têm uma boa vida lá, chamamos o nosso grupo de Irmandade — sugeriu o mestre do caos com um sorriso simpático na face, desfazendo as armas em um claro sinal de confiança. — Sou Elijah Montgomery, sou líder da Irmandade e eu estou confiando em você. Venha, leve a faca, se quiser, mas eu não vou deixa-lo dormir nas ruas nem passar fome.

Desconfiado, o rapaz parecia bastante fraco e debilitado, porém ainda era capaz de demonstrar uma coragem inata e suicida. A forma como o russo se impôs fez Elijah sorrir de canto e, mediante da oferta, o jovem pareceu ponderar bem sobre o assunto, pensando bem e então confirmando que queria sim ir com ele para a sua casa. Aquilo fez os olhos do mestre caótico brilhar e, desfazendo suas facas no ar, decidiu confiar na palavra do rapaz e saiu do beco, chamando-o ao olhar para trás e apontar com o queixo a direção para a qual iriam. A casa de Elijah não estava distante, portanto chegariam em pouco mais de quinze minutos – o que daria tempo para que os dois conversassem.

Com passos regulares e ritmados, caminhava com o russo em seu encalço. Ele não parecia bem, tinha olheiras e era como se a qualquer momento ele fosse desmaiar ali no chão de tanta fraqueza. Ele parecia faminto, além do mais. Octövir era o seu nome. Diferente, com um sobrenome russo, constatando o sotaque do delinquente mais cedo. Ainda a caminho da casa de Elijah, ele arrependeu-se de não ter levado nenhum dinheiro, ou do contrário levaria o rapaz para algum lugar. Porém em sua casa ele tinha comida, remédio e um banheiro, então talvez aquilo fosse bom.

— Então, Pavlenko, como veio do seu país para os Estados Unidos? Digo, como veio parar nas ruas desse modo? — perguntou o moreno com as mãos nos bolsos, mas acelerando o passo. O frio com certeza poderia piorar o estado de saúde do jovem telecinético.

Ainda não sabia se podia confiar na figura do jovem russo que o acompanhava. Ele poderia ser um assassino desvairado, planejando apenas que Elijah adormecesse para esfaqueá-lo e assaltar toda a sua casa. Ou, ele poderia ser apenas um garoto que fugia de algo e que se escondia. De qualquer forma, não havia como confiar ou desconfiar cem por cento do menino. Ele poderia ser mau ou bom, ou apenas fazia o que fazia para sobreviver. Independente disso, Elijah preferiu dar um voto de confiança. No fim das contas, o lorde caótico tinha em seu âmago um pouco de burrice em suas crendices; para ele, todos os mutantes, no ponto certo, poderiam se reunir e batalharem juntos. Porém, isso não era bem verdade: nem todos queriam lutar, nem todos se preocupavam e pensavam em si mesmos como uma comunidade, nem todos queriam união e uma comunidade. Para muitos, o caminho mais apropriado e certo era o da solidão.

Para quem viveu a vida inteira preso e sonhando com a liberdade, parecia ser suicida a ideia de viver sozinho e sem ninguém. Para o líder da Irmandade, a união de todos os mutantes seria o triunfo da raça – do contrário todos iriam perecer. Dimitri parecia ser um desses mutantes que prefere viver solitário, que aprende a se virar sozinho e que tinha uma resposta na ponta da língua para tudo. Ele inclusive comentava que Elijah não iria saber nada sobre ele, o que o fez sorrir consigo mesmo. Justo. Ao comentar sobre ir para a casa de um desconhecido, a reação de Elijah foi dar de ombros.

— Eu também mereço saber algo sobre você, afinal fui empurrado para um beco e quase tive minha garganta cortada por uma faca. Eu estou te levando para a minha casa, não estou? E eu não tenho intenção nenhuma em transar com você. Acho o sexo nojento e repulsivo, além de ser uma perda de tempo, o que eu quero de você é somente a sua lealdade. — Comentou o bruxo do caos.

E o que Elijah falava era a verdade: ele acolhia diversos mutantes em sua casa, dava comida, um teto, roupas e lençóis novos e quentes, e tudo o que ele queria era que todos permanecessem ali, que o ajudassem a encontrar mais mutantes e que os convencessem a se unir à sua causa. Claro, a cada dia que se passava os planos do Montgomery estavam perto de se concretizar, porém isso não significava que ele precisava usar seus companheiros como armas – aos olhos do lorde do caos, eles eram como seus filhos ou amigos.

— Só quero ter certeza de que posso confiar em você e de que eu não vou acordar com minha casa limpa, ou com uma faca no meu estômago. Já aviso de antemão que não somos os únicos mutantes na minha casa, há outros. — Ressalvou o moreno de olhos azuis, já se aproximando de sua casa e parando de frente para a mesma. — Só quero o melhor para os mutantes. Não acha que fomos negligenciados por tempo demais?

E Elijah estava certo; a hora de lutar havia chegado, e seus planos iriam começar muito em breve.

Havia uma pose em Octövir que indicava uma superioridade latente em sua personalidade. Não do tipo infantil, como é de se ver por aí, com homens se achando deuses só por terem um pênis, mas sim daquele tipo de imponência que reis e príncipes possuem, trajados em suas armaduras douradas e prestes a cavalgarem em seus cavalos brancos. Havia uma nobreza no rapaz que era atraente, como se ele a qualquer momento fosse rir da cara de Elijah e alegar ser rico, de sangue azul e pertencente à nobreza. Parecia, mas ele não o era. “Talvez ele tenha sido abastado antes de vir parar nos Estados Unidos”, pensou consigo mesmo Elijah, “ele poderia ter sido de um homem rico e, após uma emboscada, ele acabou tendo sua família morta e veio buscar asilo nos Estados Unidos”. Podia ser uma verdade, ou não.

Ele alfinetava, provocava, debochava e parecia empenhado em fazer Elijah tremer nas bases, temendo-o. Na verdade, o lorde do caos estava adorando todo o show que Octövir estava dando, pois a cada frase ele revelava mais e mais sobre si mesmo. Ao tentar insultá-lo, o russo comentou sobre o corpo e até mesmo sobre o pênis do moreno, fazendo-o sorrir. Ele era divertido com todos aqueles comentários jocosos e cheios de veneno. Muitos o odiariam, mas não o líder da irmandade; era interessante.

— A maioria das pessoas vive voltada para o sexo, traem, morrem e criam novas vidas somente por causa desse ato. Eu não gosto de transar, muito menos acho prazeroso. E não, não tenho um pênis de cinco centímetros, talvez um dia eu acabe lhe mostrando. Quanto ao meu físico, bem; como defendo todos os mutantes que eu acolho debaixo de meu teto, eu sempre tendo a malhar e a treinar para proteger cada um deles — comentava o moreno apreciando o cair da neve e, assim como uma criança mimada o russo dava ordens, demandava que os seus pedidos fossem atendidos e até mesmo ameaçava quebrar a residência de Elijah.

Suspirando, o moreno apenas estendeu a mão direita e empurrou o garoto da frente com suavidade, abrindo a porta e entrando com o russo logo atrás de si. A casa tinha um movimento quase nulo, com apenas duas pessoas estando na sala de estar, assistindo. Retirando seu casaco, Elijah o colocou em um cabide qualquer e pôs as mãos nos ombros do moreno, aproximando sua face da do rapaz.

— Mantenho os que não tem um teto aqui, mas eu lhe garanto; há muitos outros. Você nunca os perceberia lhe rondando. Quando vínhamos você viu um deles do outro lado da rua? Viu as câmeras na frente da casa? Não? Ótimo! — Dando um tapa na bunda do rapaz, o empurrou na direção das escadas com uma massagem em seus ombros e então o fez subi-las. — Venha, vou leva-lo ao meu banheiro. Lá tem uma banheira onde você tomará um banho quente.

Haviam chances de o mestre caótico estar apenas mentindo, ou blefando, mas ele era a personificação do Caos: não havia como crer em nada do que ele dizia. Ele podia estar apenas brincando, reunindo todos aqueles mutantes e lhes dando um propósito no intuito de fazê-los de bobos. Ele podia ser um vilão ou um herói, ou até mesmo um agente da X-Factor querendo entregar todos da Irmandade na primeira oportunidade de reunir todos eles. Seja o que fosse, Elijah era uma incógnita e, ao conduzir Octövir ao banheiro, ligou a banheira na água quente e foi buscar uma toalha, retornando já com vestes um pouco despojadas – camisa de botões branca, calça moletom preta e descalço, vide que a temperatura da casa era bem aquecida – e com um copo de chocolate quente numa mão e uma toalha na outra.

Batendo à porta, esperou que o outro o deixasse entrar e, ao ouvi-lo, adentrou e sorriu de canto. Ele tinha um belo corpo e, mordiscando o lábio inferior, Elijah começou a desabotoar a camisa.

— Companhia? — perguntou com visível luxúria estampada no olhar.